05 Março 2012
O MEU AMIGO MIKE AO TRABALHO de Fernando Lopes na RTP2, quinta-feira, 8 de Março, às 23H30
O documentário que Fernando Lopes realizou com o pintor Michael Biberstein, é esta semana estreado em televisão na RTP2, no mesmo dia em que a mais recente longa-metragem deste cineasta, “Em Câmara Lenta”, chega aos cinemas.

Realizado em 2008 e tendo tido sua estreia no festival DOCLISBOA desse ano, o filme fez depois a sua circulação internacional em diversos festivais e foi editado em DVD.
Resultado do encontro único de um dos grandes cineastas portugueses com a arte e a disponibilidade de um notável pintor este é um dos trabalhos maiores na filmografia de mais de cinquenta anos de Fernando Lopes.

Na altura da sua primeira apresentação pública, o crítico João Lopes escreveu a propósito do filme: «Fernando Lopes filmou Michael Biberstein com a atitude zen de quem se submete à superioridade ontológica da pintura. De facto, o quadro está ali, no seu intocável esplendor; há mesmo nele qualquer coisa que nos repete essa máxima de ambígua castidade: “Podes olhar, mas não me toques.” Daí que Lopes não tenha chegado para filmar um quadro já feito. Assumindo a virgindade do cinema, hélas!, pediu a Biberstein que fizesse um quadro para o seu olhar, para a sua câmara. O cineasta lida com o pintor com a crueldade própria da inocência, ou melhor, dispondo-se a essa entrega do judoca que, perante a precisão do golpe do adversário, cede e deixa o seu corpo cair. É o erguer-se do chão que conta.
E que vemos quando voltamos a olhar? Um milagre tecido na materialidade da tela e confirmado pela razão etérea do cinema. A saber: O Meu Amigo Mike ao Trabalho é um filme, não apenas sobre o trabalho específico do pintor (aliás, com um fulgor muito distante da pacatez artística de muitos documentários “didácticos”, demasiado crentes nas evidências imediatas), mas sobretudo dedicado a esse prodígio iconográfico e filosófico que é a fusão do tempo da pintura e da duração do cinema.»


«Mike,  o meu amigo, é meio suíço, meio americano. É pintor e vive há 30 anos em Portugal, onde ele descobriu a sua Ilha dos Amores. É pois também português.
Na Fonte Santa, entre e o Redondo e o Alandroal tem o seu atelier, um enorme hangar onde fizemos este filme. O seu nome de guerra é Michael Biberstein. Reconhecido internacionalmente, é um pintor presente na Gulbenkian, em Serralves e na Colecção Joe Berardo, no que a Portugal diz respeito, e no estrangeiro no Museu Reina Sofia, em Madrid, o Beaubourg em Paris, no Whitney Museum em Nova York. Para lá dos múltiplos coleccionadores particulares portugueses e estrangeiros.
Decidimos partir para esta aventura numa conversa em casa de amigos comuns.
"Mike, porque é que não fazes um quadro para eu filmar?". "Porque não?", respondeu-me o Mike. "Devo dizer-te, no entanto, que se não gostar do quadro não há filme". "Vamos arriscar, essa é a verdadeira natureza do cinema, e já agora da pintura, não achas?". Arriscámos, e aqui está o resultado.
O Mike deu-me a ver e a filmar a sua viagem interior na criação de uma pintura. Filmámos pois o silêncio, o seu mistério, e a sua magia.» Fernando Lopes