29 Abril 2015
PAULO ROCHA : 50 ANOS DE CINEMA
A estreia de Se eu fosse Ladrão… Roubava e a reposição nos cinemas e edição DVD das versões digitais restauradas de Os Verdes Anos e Mudar de Vida a partir de 14 de Maio em todo o país

Figura decisiva do Cinema Novo português, que nos anos 60 irrompeu bruscamente de décadas de um cinema português sem qualquer relevância ou interesse, Paulo Rocha deixou ainda em vida completada uma derradeira longa-metragem, Se eu fosse Ladrão… Roubava. No processo de pós-produção desse filme, deu também, por sua conta e risco, início à digitalização e restauro dos seus dois primeiros e extraordinários filmes - Os Verdes Anos e Mudar de Vida.

No próximo dia 14 de Maio, esses dois filmes regressam aos écrans dos cinemas (e são editados em DVD) nas novas versões digitais restauradas - num trabalho que foi retomado e prosseguido pela CINEMATECA PORTUGUESA - a acompanhar a estreia de Se eu fosse Ladrão… Roubava. Nesse filme, que teve a sua estreia mundial no Festival de Locarno, Paulo Rocha como que rememora toda a sua vida e todo o seu trabalho de 50 anos de cinema.

A Midas Filmes, que colaborou com o cineasta na fase de pós-produção do seu filme e início do processo de digitalização e restauro dos outros dois - o qual foi desde então, e por escolha de Paulo Rocha, integralmente feito sob a supervisão do realizador Pedro Costa - orgulha-se assim de, em colaboração com a Cinemateca Portuguesa, trazer de novo aos cinemas dois filmes decisivos do Cinema Novo português, duas obras maiores e incontornáveis da cultura portuguesa do século XX, mas sobretudo de não deixar esquecer (e fazer reviver) a obra imensa do cineasta Paulo Rocha, a começar pelo seu derradeiro filme.

Em Lisboa, os filmes estrearão no Cinema Ideal, de 14 a 27 de Maio, em seis sessões diárias, e no Porto no UCI Arrábida; circulando de seguida um pouco por todo o país.
A edição DVD de Os Verdes Anos será lançada em todo o país no dia 16 de Maio, com o jornal Público e nesse mesmo dia será lançado um pack com Os Verdes Anos e Mudar de Vida.

SE EU FOSSE LADRÃO... ROUBAVA

Partindo da memória familiar e da matéria dos seus filmes, Paulo Rocha revisita as suas origens e as referências maiores da sua vida e obra, numa construção fluida e complexa, que é conscientemente testamental embora só indirectamente autobiográfica (ele filma-se através do pai e dos personagens da sua obra). O motor inicial do filme é a evocação da infância e juventude do pai do autor, em particular o sonho obsessivo deste, na altura partilhado por muitos, de emigrar para o Brasil, para onde partiu efectivamente em 1909 (embora a cronologia verdadeira, tal como os factos e os nomes, sejam alterados, ou por vezes deslocados, em função das rimas com os outros filmes). Mas este tema familiar cruza-se desde o início com o grande mundo da obra de Rocha, num puzzle de raccords temáticos que se dirige para dentro e para trás (a busca do centro, ou da origem…) tanto quanto para fora (a constante ampliação de sentido, a identidade de um país). Paulo Rocha fala portanto da sua própria necessidade de partir, e da interrogação de Portugal através da distância – o tempo formativo em Paris, depois a longa estada no Japão -, assim como fala da morte, mas também da doença e de um medo tornados endémicos, corrosivos de um país. Em paralelo, vão surgindo, nos excertos dos seus filmes, grandes referências da sua obra: homens como o escritor radicado no Japão Wenceslau de Moraes (1854-1929), o poeta Camilo Pessanha (1867-1926) ou o pintor Amadeo de Souza Cardoso (1887-1918) – todos representantes de um fulgor criativo dos inícios do século tanto quanto justamente, de uma relação problemática com o país de origem. Por outro lado Se eu fosse ladrão… é ainda um repositório de um outro diálogo estruturante da obra de Paulo Rocha – neste caso, particularmente associado a Amadeo – em que a inspiração na cultura universal se funde com um trabalho genuíno, dir-se-ia antropológico, sobre a cultura popular portuguesa, em especial centrada na região norte do país (os pescadores do Furadouro, o vale do Douro…). Cinemateca Portuguesa

PAULO ROCHA
«Figura crucial no lançamento do Cinema Novo português, de que os seus primeiros filmes, “Os Verdes Anos” e “Mudar de Vida”, são títulos fundamentais, Paulo Rocha foi durante os últimos 50 anos, um autor central da moderna cinematografia portuguesa. A sua obra compõe um olhar de conjunto sobre a “portugalidade”, a partir de uma série de encontros e de choques: entre o país urbano e o país rural, ou entre a modernidade cultural e as tradições populares, por vezes em diálogo com formas e expressões culturais exógenas, como sucede nos seus filmes (“A Ilha dos Amores”, por exemplo) que reflectem a presença portuguesa no Extremo Oriente, também a partir de uma vivência pessoal (Paulo Rocha viveu muitos anos no Japão, trabalhando como Adido Cultural). Foi assistente de Jean Renoir em “Le Caporal Epinglé”, e um dos colaboradores de Manoel de Oliveira em “Acto da Primavera”.
Nasceu no Porto, em 1935, e morreu em Vila Nova de Gaia, no final do ano de 2012.» Cinemateca Portuguesa