04 Outubro 2021
TRÊS ANDARES de Nanni Moretti a 4 de Novembro em Portugal
O novo filme de Nanni Moretti, Três Andares (Tre Piani), estreia a 4 de Novembro em todo o país, sendo Portugal o primeiro país europeu a estrear o filme depois da sua estreia em Itália no passado dia 23 de Setembro.

Três Andares será, aliás o filme de abertura da Festa do Cinema Italiano, dois dias antes (2 de Novembro, cinema S. Jorge, Lisboa).
Seis anos depois de Minha Mãe, regressa aquele que é um dos grandes cineastas contemporâneos (se excluirmos o seu notável documentário Santiago, Itália, estreado também pela Midas, tal como o anterior Habemus Papam, já lá vão dez anos).

Três Andares foi um dos filmes mais consensualmente aplaudidos do último festival de Cannes, onde Moretti regressou em competição com esta história de um prédio de Roma habitado por três famílias que, ao longo de dez anos, têm de lidar com situações dolorosas, difíceis e desconfortáveis. As escolhas que cada um faz vão determinar o curso da sua existência.

Uma adaptação do romance do escritor israelita Eshkol Nevo, o filme conta com as magníficas interpretações do próprio Nanni Moretti, Margherita Buy, Riccardo Scamarcio e Alba Rohrwacher.
Na sua nota de intenções, Moretti refere que quis abordar “temas universais como a culpa, as consequências das nossas escolhas, a justiça e a responsabilidade que acompanha a parentalidade”. “Hoje em dia, falamos muito da herança que deixaremos aos nossos jovens em termos ecológicos, mas falamos pouco do que lhes deixaremos em termos éticos e morais. Cada gesto que fazemos, mesmo na intimidade do nosso lar tem consequências que afectam as gerações futuras. Cada um de nós deve ser consciente e responsável: as nossas acções são o que deixamos de herança aos que vêm depois de nós”.

«De acordo com a lição de cinema dada pelo mestre, foi também a desfazer “protagonismos” e “auto-complacências” que se processou o trabalho de escrita e de direcção de actores de Três Andares. Esse é um ponto mais do que certeiro para explicar a síntese e a transcendência deste filme, momento de graça entre a escrita e a montagem. Sendo o livro constituído por histórias dos inquilinos de três andares de um palazzo, gente e narrativas que nunca se encontram, o argumento do filme trata de os fazer cruzar. Para tanto apoia-se numa coreografia em que o movimento é sempre mais fantasmático do que naturalista.» 
Vasco Câmara, Público

«Três Andares é um objecto de "temáticas" modernas e, de algum modo, na moda — da desagregação dos laços familiares à fragilidade dos sistemas de justiça (Nanni aparece também como actor, a interpretar um juiz). Mas nada disso basta para definir a pulsação interna de um filme austero em que cada detalhe participa no misto de estranheza, perturbação e esperança de toda a teia narrativa. Porque Moretti é, afinal, isso mesmo: um grande narrador, mestre de uma complexidade formal e humana que não necessita de qualquer ostentação ou sublinhado. Três Andares é, muito simplesmente, um dos filmes maiores, não apenas de Cannes 2021, mas de todo este ano da produção europeia.» 
João Lopes, RTP