Uma oportunidade única para ver em cinema todos os filmes de Guy Debord (1931 – 1994), figura central da Internacional Situacionista e da Internacional Letrista, inéditos comercialmente em Portugal e que tiveram apenas exibições na Cinemateca Portuguesa.
Debord, que num dos seus filmes afirma “que o cinema deve ser destruído”, ocupa um lugar singular na História do Cinema, desde logo na forma como usa imagens “desviadas” de filmes clássicos, excertos de textos, seus e de outros autores, actualidades, fotografias e publicidades, explorando temas como a sociedade do espectáculo e a alienação.
Urros a Favor de Sade [1952, 64’] foi a sua primeira obra cinematográfica, filme sem imagens, que foi violentamente interrompido pelos espectadores aquando da primeira projecção pública. Sobre a Passagem de Algumas Pessoas Através de uma Breve Unidade de Tempo [1959, 20’] é um filme sobre a criação do movimento situacionista, usando excertos de uma gravação sonora da 3ª Conferência da Internacional Situacionista, fotografias de Debord e do seu grupo em Paris e textos de vários autores. Crítica da Separação [1961, 20’], que num dos seus cartões se apresenta como “um dos maiores anti-filmes de todos os tempos”, justapõe imagens de arquivo, planos de uma ficção, intertítulos, imagens de actualidades e fotografias num filme sobre a noção da separação na sociedade moderna.
A Sociedade do Espectáculo [1973, 91’] adapta o livro homónimo, a mais conhecida obra de Debord sobre a alienação do espectador e a sociedade contemporânea em que todas as relações sociais são mediatizadas por imagens e representações. O texto do filme é composto por excertos do livro e são “desviados” excertos de filmes de John Ford, Nicholas Ray e outros realizadores. A Sociedade do Espectáculo é seguido por Refutação de Todos os Juízos, Tanto Elogiosos como Hostis, Até Aqui Pronunciados Sobre o Filme “A Sociedade do Espectáculo” [1975, 22’] que responde às críticas que foram publicadas sobre o filme, uma resposta que é também uma continuação da crítica à sociedade e onde entre as imagens usadas se encontram também imagens do 25 de Abril em Portugal.
In girum imus nocte et consumimur igni [Movemo-nos na noite sem saída e somos devorados pelo fogo] [1978, 100’] é o seu último filme, uma continuação da sua obra e crítica à passividade do espectador, ilustrando a noção que uma imagem só tem potência crítica quando denuncia a sua própria fabricação e circulação.