O Rio do Ouro
Nas margens ensaguentadas do Rio do Ouro, uma balada de ciúme, um grande e horrível crime ambientado num meio popular. Um velho casal casa-se. Ela é guarda-cancela, ele é o patrão do barco-draga. Mélita, a sobrinha, cai ao rio, grita por socorro, António salva-a. Carolina morre de ciúmes. Num comboio, um cigano um nadinha vidente, o Zé dos Ouros, quer vender um colar a Mélita. Ai dele, vê o passado da inocente rapariga: numa vida anterior ela teria matado o amante e pintado com sangue dele o quarto do seu amor. Aterrado, Zé foge. Carolina vai atrás dele, rouba-lhe o colar e acaba por se tornar sua amante. Quer que o cigano lhe desvende o segredo, lhe explique o que viu. Enquanto o velho António se sente cada vez mais atraído pela sobrinha, Carolina sonha, vê tudo vermelho de sangue. O Zé já não tem medo de Mélita, quer deixar a amante. A guarda-cancela sente-se traída por todos, vê uma grande faca diante de si…
Se eu Fosse Ladrão… Roubava
Partindo da memória familiar e da matéria dos seus filmes, Paulo Rocha revisita as suas origens e as referências maiores da sua vida e obra, numa construção fluida e complexa, que é conscientemente testamental embora só indirectamente autobiográfica (ele filma-se através do pai e dos personagens da sua obra). O motor inicial do filme é a evocação da infância e juventude do pai do autor, em particular o sonho obsessivo deste, na altura partilhado por muitos, de emigrar para o Brasil, para onde partiu efectivamente em 1909 (embora a cronologia verdadeira, tal como os factos e os nomes, sejam alterados, ou por vezes deslocados, em função das rimas com os outros filmes). Mas este tema familiar cruza-se desde o início com o grande mundo da obra de Rocha, num puzzle de raccords temáticos que se dirige para dentro e para trás (a busca do centro, ou da origem…) tanto quanto para fora (a constante ampliação de sentido, a identidade de um país). Paulo Rocha fala portanto da sua própria necessidade de partir, e da interrogação de Portugal através da distância – o tempo formativo em Paris, depois a longa estada no Japão -, assim como fala da morte, mas também da doença e de um medo tornados endémicos, corrosivos de um país. Em paralelo, vão surgindo, nos excertos dos seus filmes, grandes referências da sua obra: homens como o escritor radicado no Japão Wenceslau de Moraes (1854-1929), o poeta Camilo Pessanha (1867-1926) ou o pintor Amadeo de Souza Cardoso (1887-1918) – todos representantes de um fulgor criativo dos inícios do século tanto quanto justamente, de uma relação problemática com o país de origem. Por outro lado Se eu fosse ladrão… é ainda um repositório de um outro diálogo estruturante da obra de Paulo Rocha – neste caso, particularmente associado a Amadeo – em que a inspiração na cultura universal se funde com um trabalho genuíno, dir-se-ia antropológico, sobre a cultura popular portuguesa, em especial centrada na região norte do país (os pescadores do Furadouro, o vale do Douro…). Cinemateca Portuguesa
O Rio do Ouro
realização e argumento Paulo Rocha
adaptação e diálogos Paulo Rocha, Cláudia Tomaz
música José Mário Branco
fotografia Elso Roque
som Nuno Carvalho
montagem José Edgar Feldman
decoração Alberto Péssimo, Jorge Gonçalves
figurinos Manuela Bronze
director de produção João Pedro Bénard
apoio financeiro IPACA/ICAM, RTP
co-produção Portugal, Brasil
apoio Ministério Cultura Portugal, Ministério Cultura Brasil
agradecimentos Câmara Municipal do Porto, Fundação Calouste Gulbenkian, Graham’s Port Wine
produção Suma Filmes, Skylight
distribuição Midas Filmes
PORTUGAL, FRANÇA, BRASIL – 1998 – 97’ – cor
M/12
Se eu Fosse Ladrão… Roubava
produção e realização Paulo Rocha
argumento e diálogos Regina Guimarães
director de fotografia Acácio De Almeida
décors Acácio Carvalho
figurinos Manuela Bronze
caracterização Sano De Perpessac
1º assistente de realização Paulo Guilherme
som Olivier Blanc
montagem de som e misturas Nuno Carvalho
montagem Edgar Feldman
director de produção António Gonçalo
produção Gafanha Filmes
financiamento ICA, Fundação Calouste Gulbenkian, RTP
apoio Câmara Municipal de Ovar
distribuição Midas Filmes
PORTUGAL – 2012 – 87′ – cor/p&b
M/14
Português legendado em Inglês
© Midas Filmes